quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Retrospectiva (ou uma útil reflexão)

A vida, como venho vivendo
É perda de tempo
Sem glórias
O tempo passando
Sem projetos
O que irei contar pros meus netos?
Nada. Já vou me acostumando

Queria apagar o passado
Corrigir meu passo
Não ser um fracasso
Mas estou atrasado

Olho no relógio
É muito tarde
Aquele sentimento que invade
Tem sempre amargo sabor
Se parece com uma dor
E não era óbvio

Hoje eu sei e confirmo
Se chama ressentimento
Que come meu coração a ritmo lento
Como uma valsa maldita e eterna
Essas longas angústias modernas

Penso - reafirmo

É tarde pra pular da cama
É tarde pra sair da lama
Pra fingir se importar
Pra perder tempo em tentar

A vida é um longo caminho
Lento até o destino final
Rápido como o seu funeral
Onde sempre se morre sozinho

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Petentibus Auxilium

Ei, você
Me diz
Nós últimos dias
Quantas vezes perguntaram
Se você está feliz
Como tá sua saúde mental
Se está tudo legal

Só perguntam do seu emprego
Se tá ganhando dinheiro
Se pensa no seu futuro
Se não é um sem futuro
Se ligam pro seu apego
Você não é o primeiro

O mundo é cão, é cruel
Se você come as sobras
Não sente gosto de mel
O mundo sempre te prova
Te mostra gosto de fel

E você vai ligar?
É faca nos dentes
Veste sua camisa do ódio
Com sua calça de ressentimento
Você é sua linha de frente
Esse arsenal é seu sentimento

Sai, vai pra rua
Se prepara, veste sua armadura
Um sorriso falso, de caradura
De pura falsidade
Não convém a realidade

Cê ainda lembra seu objetivo?
Se a essa altura é só estar vivo
É meramente existir
E você acha pouco
Ou você acha suficiente
Você olha no espelho
E se acha louco
Ou nem se reconhece

Siga esse conselho
É truque da mente
Cê nunca mais esquece
Todos nós estamos mortos
O resto é ilusão - não acredite
O fedor das ruas é a humanidade em putrefação
O armagedon é hoje - meu palpite
A caneta não é minha libertação
É minha solidão
Poderia ser um pedido de socorro
Contra tudo que eu corro
Sabendo que eu morro
E vendo que se aproxima
Já não tenho pressa
Nem sei se fico ansioso
Pra que fugir?
Não há fim honroso
Nunca houve honra aqui
Sempre fui coadjuvante dessa peça
Não serei participante
Da confusão dessa rima

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Algum sábado

Ontem foi diferente
noite bem estranha
dormi de boa, entende
Sem visita da insônia
Percebi quando acordei
A hora voa bem sei
o alarme tocou
o mundo acordou
não fui dormir com o Sol
Ele me acordou

Agora aqui, no tédio
olhando a preguiça das horas
o relógio parece quebrado
eu pareço ansioso - cansado
contra o tempo não há remédio
paciência não é virtude
quem não tem não se ilude

quem é poeta da rima fácil
de montão enche o papel
amém - não é meu caso porém
a rima custa, é torre de babel
olho pra cima não vejo o céu
só um teto de luzes artificiais
que me oprime com seu branco
É o progresso - Deus é mais
não regresso a ser humano

O ambiente estéril cheira a nada
nem à brisa do mar
nem ao sujo da calçada
O ar condicionado tá parado
mas não tem calor humano
o frio é insano
e não há ninguém do meu lado

Tudo é passado
os dinossauros, Muhammad Ali
o que recém escrevi
escrevo num papel em pedaço
leio e jogo de lado
enchi o lixo sem pena
ajudo a destruir o ecossistema
quantas árvores são destruídas
pra nascer esse poema?

Quem realmente se importa?
com o que de fato importa
diga um e aumente a aposta
não me importo com essa bosta
sem ponto final
sem caneta nem um real

Aperta o espaço
no curto eu faço
rimas sem nenhum sentido
um verso vazio e comprido
que borra nessa tinta

Amanhã nem vou entender
o que tá nesse papel
escrevo pra enganar
o estômago - o relógio
A mim mesmo - óbvio

Nisso sou especialista
tanto me engano que nem confio
e nem me conheço
Hoje mó apreço
Amanhã desprezo e frio

Sem razão nem pista
nem questão
o tempo acabou

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Sono



Deita
Fecha o olho
Tenta dormir
É preciso descansar
Esquecer o dia
Relaxar
O corpo precisa.

Para
Pensa
Pensa muito
Nos problemas
Nos complexos da mente
Se perde dentro de si
O sono ameaça ir embora

Mas precisa dormir
Começa a se estressar
Olha no relógio e está mais tarde
Não é possível puta que pariu

Tenta tudo de novo
Volta o ciclo vicioso
O sono já tá longe
Queria a calma de um monge
E dormir nesse quarto silencioso

Mas já são três da manhã.
Novamente você perdeu
Nem dormir conseguiu
Até pra isso um completo fracasso
Um PhD em derrotas
Especialista em revés.

Qualquer animal consegue
Basta fechar os olhos
Fugir desse ciclo
Caiu de novo
A mente pensa várias coisas
Parece o sol nascendo
Parece sua esperança morrendo

Não há mais luta
Foi nocauteado
Filho da puta

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Blues do tédio

Tic tac
sete e pouco
Não vejo gente
não vejo nada
Só ouço o barulho do tédio
Um silêncio na mente
Um vazio nesse prédio
Sem remédio - tô ficando louco

A hora insiste em não passar
Cabeça vazia - diz o ditado
É Oficina do diabo
Começo a pensar
no meu lugar no mundo
Nos sentimentos nesse vagar

Meus sentimentos não são o mesmo a todo tempo
Às vezes ódio
Ás vezes ressentimento
Oscilo pra lá e pra cá como um pêndulo
Um incenso de igreja incensando
desgraças por onde passo
Um fracasso

Desisto
Ou não desisto
Não desisto de escrever essas linhas
pensadas na pressa em algum lugar
sem muito tempo de rimar
que me exigiu correr pra escrever
antes que a ideia fugisse
parecia bonito na cabeça
Parecia uma beleza
A métrica no improviso sempre parece boa
Depois vira uma canoa - furada
A tal da palavra

Dizem que a palavra muda o mundo
Muda é o caralho
O que muda é a nove milímetros
Bala quente sem pena nem glória
Pow
Virou história

E um outro que conte
Eu estou longe

sábado, 20 de janeiro de 2018

Sábado no Bairro

Sábado no bairro
O sol até brilha mais
Reflete as pessoas na rua
O ar é mais calmo
Sem pressa, sem trabalho

Tem a feira vendendo tudo
Par de meia, mingau, suco
Camarão pra moqueca
Dendê pro vatapá
É sábado de manhã
Não vá se atrasar

A criançada brinca na rua
Sob a vigilância do dos pais
É um luxo com tanta violência
Nessa cidade mundo cão
Que se veja essa convivência

Os atletas correm na praça
Que ainda é de graça
Vai saber se mudaram
Piscou, privatizaram

Mas não
A praça é do povo
Do véi, do novo
Pra curtir sem confusão

Tem uma galera de skate na pista
Fortalecendo a cultura de rua
Half cheio, dou uma vista
mas se não é a sua
Pode pá, ir pra praia surfar

De bike sem pressa
Vou curtindo o vento na cara
Que fique tudo bem, tomara
Hoje nada me estressa
Vou esticar até a praia

Olhar o mar bem azul
Tranquilo e infinito
Até onde a vista alcança
Essa é nossa melhor herança
O que nos resta preservar
Sem sujar a praia, maldito

Mas eu tô ligado
No movimento
Biquini pra lá e pra cá
Tô atento

Praia é essa
curtir o vento
saborear o momento

Mas tá na hora de voltar
Como todo sabadão
lá em casa tem feijão
não convém atrasar

E de noite pode ser
Vou conferir no celular
Se um brother me chamar
parar no bar pra beber

uma gelada de boa
é sábado no bairro

Fim dos tempos

Foi bom ter te conhecido
Mas na boa, tô vazando
Peço a conta desse mundo
Por angústia, tédio
Cheguei ao fundo
Me vejo solitário e perdido
E meus sonhos são uma piada

A gente pensa cada coisa
Numa madrugada sem dormir
Olhando pro céu infinito
Sem vontade de estar aqui
Pensando no dia repetido

O dia de amanhã é hoje igual
Sol quente, tédio e tal
O relógio se arrasta lentamente
Com a preguiça de quem sabe
Não é tudo sobre a gente
O sentimento nem cabe
Nas letras de um verso
Que revele meu lado reverso

Eu já fui mais novo
E era sobre depressão
Hoje eu vejo ao redor
É tudo sobre desilusão
Se é ódio não sei
Se é desprezo talvez

O mundo roda e não se importa
Porra, não pedi pra nascer
Não pedi tanta merda
Acontece por acontecer
Simplesmente
Se foda

O que eu pedi ou não ocorreu
Ou escapou entre os dedos
Escorreu
Como a areia branca da praia
Aquela perto de casa
Aquela brisa do mar

Se pensar em tanta desgraça não dorme
Olha eu aqui acordado
De madrugada como um otário
Desejando apenas um algo
Que nem sei o que é
Não são desejos, não é fé

Tic tac o tempo vai
Implacável ele não para
Amanhã eu acordo cedo
Eu deveria acordar cedo
Eu deveria ser útil
Deveria orgulhar minha mãe
Fazer a roda da sociedade rodar
Uma qualquer conversa fútil
Num ponto esperando buzu

Eu deveria romper o tédio
Acordar num dia inspirado
E pular do topo do prédio
Pof! Esmagado
A gravidade é cruel
No chão que nem papel

Mas porra eu tenho medo daltura
Tenho medo de viver
De ver que posso gostar
Pra onde eu iria fugir
Se não tem lado de fora?

Se só tem o agora
O antes já foi, morreu
O depois está no ponteiro da hora.
Ele chega mas nunca sou eu.

Tô entediado e odeio as horas
Elas passam mas e daí.
Todos ficamos aqui.
Lutando contra o maldito relógio

Pra ter lembranças boas
Pra ser um velho nostálgico
Isso não é pouco prático
Parece uma vida a toa.

Não acabou o tédio, o ódio
A frustração de ser um bosta
De jogar no time dos derrotados
Eu apenas aceitei meu lado.
Não há mal nisso.

Mal é não rimar o verso
Deixar os versos soltos
Não rimar por desleixo não é certo

Mas é o sono chegando.
É o olho fechando
Paro essa merda por aqui.

Mate o mensageiro dessa bosta