sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Desabafo

 Pode estar em todo canto
A tal da poesia
Numa dor e seu pranto
E também numa alegria

Mas pode estar também
Em lugares ainda menores
na espera de dias melhores
Sem saber muito bem

Nada parece acontecer
que salve esse mundo do caos
se somos todos ou muitos maus
talvez morramos sem saber

quando eu pego a caneta
para rabiscar no papel
é sempre viagem às cegas
onde estou não sei onde vou
ao contrário dos trilhos desse metrô
que anda decidido como o planeta
como se o destino fosse revel

Correm os minutos e estou atrasado
só esperando o aviso da estação
ainda é cedo e estou cansado
pera - a rima era desmotivado
é o que sente o meu coração

corremos mais que o relógio de ponto
que ameaça me pegar
escrevo isso que nem é conto
E não alivia o peso de existir
Ao contrário, faz pensar mais
se não te faz desistir
te faz sofrer e esperar
a vida já pesa demais

lembro de uma música que diz
ignorância é bênção
sem saber de nada, talvez
sem querer aprender
deve ser mais fácil ser feliz
evitando a palavra não e senão
sem saber o que dizer

mas eu me questiono todo dia
e por isso duvido de mim
não queria que fosse assim
só queria ser mais satisfeito
contente com isso e confiante
mas parece que me odeio
ou muita gente pensa isso

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Andar

Falo
Falo muito pouco
Ouço
Tanto e fico rouco
Em dias sempre iguais
Problemas alheios atuais
Sempre os mesmos
Apertados numa folha de papel
Torre de babel

Como o metrô lotado
o ônibus apertado
o espaço é caro
conforto é raro

Passo meus dias fechado
no conforto opressivo dessa sala
paredes brancas que não dizem nada
burocratas de rosto fechado
papéis inúteis, carimbados

todo mundo é filho de alguém
aqui viram números guardados
no frio do ar condicionado
Relegados a serem ninguém

assim como estou aqui e agora
sem saber se ainda sou um quem
entre paredes sempre brancas
um mundo morto sem cor
anestesiado pra não sentir dor
às vezes pensando em fugir

como pássaro voar
do décimo terceiro andar

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Reminiscência

 Passo dias sonhando acordado

vivendo vidas que nunca vivi

Penso estar preso no passado

mas é ilusão e caí


Imagino rumos que poderia ter ido

Seguindo sonhos inocentes de criança

Indo em frente cheio de esperança

Mas foi caminho perdido


Nunca pude voar com asas cortadas

Sem encarar a tesoura que cortou

talvez invejando quem um dia voou

quem ganhou o mundo por essas estradas

sem paradas atrás dos rumos da vida

talvez não achando a volta, mas longe da ida


E eu fiquei confortável no chão

Na segurança do medo de altura

que me disseram - é prudente ter

pois não convém viver

uma vida de tanta loucura

bobagem criar essa ilusão

pois sonhar é caro demais

melhor viver no chão sem nada de mais


hoje eu olho a mesma parede branca

e chamam de vitória

eu não escrevi minha história

aceitei aquela dócil tranca


hoje eu conto piada

e todos julgam que sou feliz

mas parece que ninguém diz

sobre a minha risada


vejo o céu bem azul lá fora

mas aqui dentro segue gelado

como ele, sigo condicionado

vezes entediado, outras mau-humorado

quase sempre esperando a hora


um dia fui criança e sonhei

a vida dos sonhos que viveria

hoje, adulto, sem aquela alegria

digo que nunca me achei

ou me achei numa rua dessa cidade

sobrevivendo na mediocridade


o que sai da caneta nem faz sentido

é visão amargurada do passado

do que eu queria e deu tudo errado

talvez nem devia ter dito

pra não repensar o não vivido

para não viver amargurado


Também não posso dizer

que tudo é tão ruim assim

boas coisas que acontecem pra mim

e seria injusto esconder


tenho pra onde ir no fim do dia

me esconder desse mundo mesquinho

ter compreensão e carinho

num potinho de alegria


descansar apesar de tudo

e sonhar com algo melhor

que pode haver bem maior

mesmo que os dias sejam iguais

parados, e isso não significa paz


não escrevo buscando notoriedade

isos fica para os que voam alto

pássaros do outro lado da cidade

os que voam nos aeroportos

os que ficam no chão como patos

são lembrados só depois de mortos