quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Rá! E cai

Nem nuvem no céu azul com o calor que faz tenho medo de rimar

O Sol vem todos os dias Só vem para queimar A manhã que nasce amena Na manha se põe sem pena mas amanhã vem brilhar


Não escrevo pra salvar vidas 

Nem minha nem de ninguém

nem me atrevo a posar de herói 

e pintar um quadro que não convém 

quero é o caos das verdades caídas 

homens maus que enganam por enganar

Sou talvez aquela noite escura de lua nova e sem estrelas 

Cave a cova sem que possa vê-la 

Um lamento, muxoxo, lamúria


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Desabafo

 Pode estar em todo canto
A tal da poesia
Numa dor e seu pranto
E também numa alegria

Mas pode estar também
Em lugares ainda menores
na espera de dias melhores
Sem saber muito bem

Nada parece acontecer
que salve esse mundo do caos
se somos todos ou muitos maus
talvez morramos sem saber

quando eu pego a caneta
para rabiscar no papel
é sempre viagem às cegas
onde estou não sei onde vou
ao contrário dos trilhos desse metrô
que anda decidido como o planeta
como se o destino fosse revel

Correm os minutos e estou atrasado
só esperando o aviso da estação
ainda é cedo e estou cansado
pera - a rima era desmotivado
é o que sente o meu coração

corremos mais que o relógio de ponto
que ameaça me pegar
escrevo isso que nem é conto
E não alivia o peso de existir
Ao contrário, faz pensar mais
se não te faz desistir
te faz sofrer e esperar
a vida já pesa demais

lembro de uma música que diz
ignorância é bênção
sem saber de nada, talvez
sem querer aprender
deve ser mais fácil ser feliz
evitando a palavra não e senão
sem saber o que dizer

mas eu me questiono todo dia
e por isso duvido de mim
não queria que fosse assim
só queria ser mais satisfeito
contente com isso e confiante
mas parece que me odeio
ou muita gente pensa isso

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Andar

Falo
Falo muito pouco
Ouço
Tanto e fico rouco
Em dias sempre iguais
Problemas alheios atuais
Sempre os mesmos
Apertados numa folha de papel
Torre de babel

Como o metrô lotado
o ônibus apertado
o espaço é caro
conforto é raro

Passo meus dias fechado
no conforto opressivo dessa sala
paredes brancas que não dizem nada
burocratas de rosto fechado
papéis inúteis, carimbados

todo mundo é filho de alguém
aqui viram números guardados
no frio do ar condicionado
Relegados a serem ninguém

assim como estou aqui e agora
sem saber se ainda sou um quem
entre paredes sempre brancas
um mundo morto sem cor
anestesiado pra não sentir dor
às vezes pensando em fugir

como pássaro voar
do décimo terceiro andar

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Reminiscência

 Passo dias sonhando acordado

vivendo vidas que nunca vivi

Penso estar preso no passado

mas é ilusão e caí


Imagino rumos que poderia ter ido

Seguindo sonhos inocentes de criança

Indo em frente cheio de esperança

Mas foi caminho perdido


Nunca pude voar com asas cortadas

Sem encarar a tesoura que cortou

talvez invejando quem um dia voou

quem ganhou o mundo por essas estradas

sem paradas atrás dos rumos da vida

talvez não achando a volta, mas longe da ida


E eu fiquei confortável no chão

Na segurança do medo de altura

que me disseram - é prudente ter

pois não convém viver

uma vida de tanta loucura

bobagem criar essa ilusão

pois sonhar é caro demais

melhor viver no chão sem nada de mais


hoje eu olho a mesma parede branca

e chamam de vitória

eu não escrevi minha história

aceitei aquela dócil tranca


hoje eu conto piada

e todos julgam que sou feliz

mas parece que ninguém diz

sobre a minha risada


vejo o céu bem azul lá fora

mas aqui dentro segue gelado

como ele, sigo condicionado

vezes entediado, outras mau-humorado

quase sempre esperando a hora


um dia fui criança e sonhei

a vida dos sonhos que viveria

hoje, adulto, sem aquela alegria

digo que nunca me achei

ou me achei numa rua dessa cidade

sobrevivendo na mediocridade


o que sai da caneta nem faz sentido

é visão amargurada do passado

do que eu queria e deu tudo errado

talvez nem devia ter dito

pra não repensar o não vivido

para não viver amargurado


Também não posso dizer

que tudo é tão ruim assim

boas coisas que acontecem pra mim

e seria injusto esconder


tenho pra onde ir no fim do dia

me esconder desse mundo mesquinho

ter compreensão e carinho

num potinho de alegria


descansar apesar de tudo

e sonhar com algo melhor

que pode haver bem maior

mesmo que os dias sejam iguais

parados, e isso não significa paz


não escrevo buscando notoriedade

isos fica para os que voam alto

pássaros do outro lado da cidade

os que voam nos aeroportos

os que ficam no chão como patos

são lembrados só depois de mortos

quarta-feira, 30 de março de 2022

Recortes

Paredes brancas por toda parte

Lisas, alvas, sem personalidade

Não querem me dizer nada

Não querem que eu pense em nada

Que siga uma rotina mesmo sem vontade

Vou gastando os melhores anos da vida

Passa um dia - passa uma tarde

Qual a sua idade?


Onomatopeias de máquinas eletrônicas

Bater o ponto no mesmo horário

Viver refém do maquinário

E ter como melhor amigo o microondas

Alucinações polifônicas


Meus amigos não vejo mais

Mas vejo desconhecidos

Que entram e saem, perdidos

E como se fossem meus companheiros

Vem e vão de volta ao anonimato

Uma tentativa, revolta, apelo

E segue o ritmo dos ponteiros


Tic-tic-tic esse relógio nem faz tac

Espero a hora do alarme

Pra ver um pouquinho de Sol

Indo pra casa na mesma rotina

homem, mulher, menino, menina

Apertados no metrô lotado

Corpo resiste, rosto cansado

É a mesma expressão em toda parte


Paredes brancas e muito papel

Gente que virou só numeral

Daqui nem vejo o céu

A persiana tá fechada

Parece que chove lá fora

Aqui tudo se arrasta

Confiro novamente a hora

A tarde é longa e vasta


Um copo de café pra não dormir

Depois muitos após o primeiro

O tédio que persegue é o problema

Pelo ritmo, o sono é certeiro

Silêncio cortado por um telefonema

Mas a mente querendo fugir


Se sou refém desse relógio

Prisioneiro dos ponteiros

Quero antes os meus direitos

Que sair no necrológio

terça-feira, 29 de março de 2022

Feliz, cidade

 Uma garça

voando na imundície

De um rio hoje esgoto

Procurando o que comer

Parada, olhando abaixo da superfície

Não mais flutuando no vazio

mas sim no lodo podre ignoto


Aquela fotografia urbana

No aniversário da cidade

Me fez pensar nos outros

Que vivem a mesma realidade


Muitos vivendo no lodo

Encarando a dura verdade

Fugindo da maré cheia

mas outros, bem poucos

Vivendo da desgraça alheia

domingo, 10 de novembro de 2019

Esquecido

O que ficou esquecido
Num papel velho deixado
Nem sempre é o pior
Pode ter perdido o sentido
E sua hora passou

Aliás você já pensou
Se mesmo sendo tão cedo
A sua hora já se foi
Você se atrasou
Até pra esse compromisso

Como um trem apressado a vida foi
Você ficou na estação
Preferiu ou não teve opção?
Agora não importa

Seguir esperando a próxima locomotiva
Mas sua vida é uma estação pequena
De uma cidade de interior
Os trens não passam mais lá
Há muito tempo
O último, não sei se estava atento
Foi sua imaginação
Sua ínfima esperança
Com a íntima desconfiança
De que a estação decadente
Que na verdade é sua alma
Na verdade nem espera o trem
Só fica ali parado pra enganar a quem

Pra dizer a si mesmo que ainda espera
Pra mostrar ao mundo que desespera
Mas no momento sua felicidade é foto sépia
Desbotada de velha
Sem uma rima que sirva de embalo
Sem ritmo que te dê uns trocados

Fique aí sentado
O trem não vem mais
Jamais
É tarde demais