terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Reminiscência

 Passo dias sonhando acordado

vivendo vidas que nunca vivi

Penso estar preso no passado

mas é ilusão e caí


Imagino rumos que poderia ter ido

Seguindo sonhos inocentes de criança

Indo em frente cheio de esperança

Mas foi caminho perdido


Nunca pude voar com asas cortadas

Sem encarar a tesoura que cortou

talvez invejando quem um dia voou

quem ganhou o mundo por essas estradas

sem paradas atrás dos rumos da vida

talvez não achando a volta, mas longe da ida


E eu fiquei confortável no chão

Na segurança do medo de altura

que me disseram - é prudente ter

pois não convém viver

uma vida de tanta loucura

bobagem criar essa ilusão

pois sonhar é caro demais

melhor viver no chão sem nada de mais


hoje eu olho a mesma parede branca

e chamam de vitória

eu não escrevi minha história

aceitei aquela dócil tranca


hoje eu conto piada

e todos julgam que sou feliz

mas parece que ninguém diz

sobre a minha risada


vejo o céu bem azul lá fora

mas aqui dentro segue gelado

como ele, sigo condicionado

vezes entediado, outras mau-humorado

quase sempre esperando a hora


um dia fui criança e sonhei

a vida dos sonhos que viveria

hoje, adulto, sem aquela alegria

digo que nunca me achei

ou me achei numa rua dessa cidade

sobrevivendo na mediocridade


o que sai da caneta nem faz sentido

é visão amargurada do passado

do que eu queria e deu tudo errado

talvez nem devia ter dito

pra não repensar o não vivido

para não viver amargurado


Também não posso dizer

que tudo é tão ruim assim

boas coisas que acontecem pra mim

e seria injusto esconder


tenho pra onde ir no fim do dia

me esconder desse mundo mesquinho

ter compreensão e carinho

num potinho de alegria


descansar apesar de tudo

e sonhar com algo melhor

que pode haver bem maior

mesmo que os dias sejam iguais

parados, e isso não significa paz


não escrevo buscando notoriedade

isos fica para os que voam alto

pássaros do outro lado da cidade

os que voam nos aeroportos

os que ficam no chão como patos

são lembrados só depois de mortos