domingo, 10 de novembro de 2019

Esquecido

O que ficou esquecido
Num papel velho deixado
Nem sempre é o pior
Pode ter perdido o sentido
E sua hora passou

Aliás você já pensou
Se mesmo sendo tão cedo
A sua hora já se foi
Você se atrasou
Até pra esse compromisso

Como um trem apressado a vida foi
Você ficou na estação
Preferiu ou não teve opção?
Agora não importa

Seguir esperando a próxima locomotiva
Mas sua vida é uma estação pequena
De uma cidade de interior
Os trens não passam mais lá
Há muito tempo
O último, não sei se estava atento
Foi sua imaginação
Sua ínfima esperança
Com a íntima desconfiança
De que a estação decadente
Que na verdade é sua alma
Na verdade nem espera o trem
Só fica ali parado pra enganar a quem

Pra dizer a si mesmo que ainda espera
Pra mostrar ao mundo que desespera
Mas no momento sua felicidade é foto sépia
Desbotada de velha
Sem uma rima que sirva de embalo
Sem ritmo que te dê uns trocados

Fique aí sentado
O trem não vem mais
Jamais
É tarde demais

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Reflexos

Me olho nesse vidro maldito
e não me reconheço
mas deveria ser sincero
espero ser claro - nem me conheço
meu olhar é o desânimo cansado
de quem corre sabendo que vai perder
que vai tropeçar pra cair
e levantar pra morrer
odiando tanto a vida
quanto essas rimas no infinitivo

Eu deveria fazer a barba
eu deveria fazer alguma coisa
ser útil - mas pra quem?
se logo percebo que sou ninguém
com algumas moedas no bolso
um documento de identidade
que revelam o muito pouco
que fiz com minha idade

Na casa ao lado o vizinho faz festa
sigo aqui ocupado com nada
já é alguma madrugada
também tenho insônia e não é bom
viro acordado pensando besteira
alisando a barba e coçando a testa

Esses versos precisam rimar?
Amanhã eu nem entenderei a letra
ninguém lerá esse rabisco
não preciso correr esse risco

Talvez eu nem seja burro
e veja tudo da forma errada
sou semi-analfabeto em viver
Sem grana pra pagar terapia
a via do desabafo é escrever

sexta-feira, 8 de março de 2019

A Peleja Parte I

Acho que é noite ainda
Não sei se é dia
Só olho pro relógio na parede
Torcendo pra hora escorrer
Esperando o fim do copo
Esperando o fim do corpo
Esperando a graça de viver
Querendo não morrer de sede
Sonhando com uma alegria
Uma felicidade finda

Acordo na minha cama
Mas nem cheguei a dormir
Brigo com a insônia
Que não vai, nunca passa
Que é mais uma desgraça
Madrugadas a me consumir
Já nem sei se sofro ou se é drama
Ou a morte sem cerimônia

Só quero quebrar o vidro e pular
Em queda livre até o chão
Sentir o vento me cortar
Não me importando com a decepção

Como se estivesse nu na rua
E a verdade nua e crua

Eu pudesse dizer
Pau
no
cu
do universo

Eu não preciso de você
eu não preciso viver