quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Petentibus Auxilium

Ei, você
Me diz
Nós últimos dias
Quantas vezes perguntaram
Se você está feliz
Como tá sua saúde mental
Se está tudo legal

Só perguntam do seu emprego
Se tá ganhando dinheiro
Se pensa no seu futuro
Se não é um sem futuro
Se ligam pro seu apego
Você não é o primeiro

O mundo é cão, é cruel
Se você come as sobras
Não sente gosto de mel
O mundo sempre te prova
Te mostra gosto de fel

E você vai ligar?
É faca nos dentes
Veste sua camisa do ódio
Com sua calça de ressentimento
Você é sua linha de frente
Esse arsenal é seu sentimento

Sai, vai pra rua
Se prepara, veste sua armadura
Um sorriso falso, de caradura
De pura falsidade
Não convém a realidade

Cê ainda lembra seu objetivo?
Se a essa altura é só estar vivo
É meramente existir
E você acha pouco
Ou você acha suficiente
Você olha no espelho
E se acha louco
Ou nem se reconhece

Siga esse conselho
É truque da mente
Cê nunca mais esquece
Todos nós estamos mortos
O resto é ilusão - não acredite
O fedor das ruas é a humanidade em putrefação
O armagedon é hoje - meu palpite
A caneta não é minha libertação
É minha solidão
Poderia ser um pedido de socorro
Contra tudo que eu corro
Sabendo que eu morro
E vendo que se aproxima
Já não tenho pressa
Nem sei se fico ansioso
Pra que fugir?
Não há fim honroso
Nunca houve honra aqui
Sempre fui coadjuvante dessa peça
Não serei participante
Da confusão dessa rima

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Algum sábado

Ontem foi diferente
noite bem estranha
dormi de boa, entende
Sem visita da insônia
Percebi quando acordei
A hora voa bem sei
o alarme tocou
o mundo acordou
não fui dormir com o Sol
Ele me acordou

Agora aqui, no tédio
olhando a preguiça das horas
o relógio parece quebrado
eu pareço ansioso - cansado
contra o tempo não há remédio
paciência não é virtude
quem não tem não se ilude

quem é poeta da rima fácil
de montão enche o papel
amém - não é meu caso porém
a rima custa, é torre de babel
olho pra cima não vejo o céu
só um teto de luzes artificiais
que me oprime com seu branco
É o progresso - Deus é mais
não regresso a ser humano

O ambiente estéril cheira a nada
nem à brisa do mar
nem ao sujo da calçada
O ar condicionado tá parado
mas não tem calor humano
o frio é insano
e não há ninguém do meu lado

Tudo é passado
os dinossauros, Muhammad Ali
o que recém escrevi
escrevo num papel em pedaço
leio e jogo de lado
enchi o lixo sem pena
ajudo a destruir o ecossistema
quantas árvores são destruídas
pra nascer esse poema?

Quem realmente se importa?
com o que de fato importa
diga um e aumente a aposta
não me importo com essa bosta
sem ponto final
sem caneta nem um real

Aperta o espaço
no curto eu faço
rimas sem nenhum sentido
um verso vazio e comprido
que borra nessa tinta

Amanhã nem vou entender
o que tá nesse papel
escrevo pra enganar
o estômago - o relógio
A mim mesmo - óbvio

Nisso sou especialista
tanto me engano que nem confio
e nem me conheço
Hoje mó apreço
Amanhã desprezo e frio

Sem razão nem pista
nem questão
o tempo acabou