terça-feira, 23 de março de 2010

Ernesto...

Ernesto era só um garoto
Não tinha pai
Que o abandonou na infância
Sua mãe é alcoólatra
Sua avó morreu louca


Ele próprio tentou se matar
Duas vezes
Na primeira o veneno não foi absorvido
na segunda a corda partiu



Era ridicularizado no trabalho
De balconista de bar
Por causa da sua pobre mãe



Sua única namorada
Disse que ele era um amor de pessoa
Um menino bacana
Mas sumiu no mundo com um colega de sala
Ernesto nunca mais a viu
E nunca entendeu o que aconteceu



Ao chegar em casa ele tomava banho
Comia algo
Pegava uma cerveja
Quando sua mãe deixava alguma
E ligava a TV



Mas não via nada
A caixa só fazia som de fundo para os seus sonhos
Onde ele era feliz
E sua mãe não chegava em casa cheirando a álcool
Se batendo nos móveis
E dormindo no chão
Abraçada a uma garrafa de conhaque



Ernesto sabia
Que sua vida só seria pior
Dia a pós dia
Até o final



No dia seguinte, na escola
Ernesto viu sua chance de mudar
Seu colega de sala, que era do partido
Estava recrutando pessoal para lutar na Nicarágua
Pela revolução
Ernesto achou que era seu destino
Afinal fora batizado assim por conta do argentino famoso
E deveria seguir os mesmos passos.

Decidiu se alistar
E viajou escondido
Ninguém ficou sabendo
E nem notaram sua ausência
Era a chance de recomeçar
Não sabia nem pegar numa arma
Mas foi bem no treino em Cuba
Seria atirador


Chegou na Nicarágua escondido
De barco
Exatamente como o Che fez em Cuba



Na primeira troca de tiros
Matou um soldado
Achou que aquilo não era pra ele



No segundo dia
Conheceu Juanita
Estudante chilena de medicina
Voluntária que nem ele



Foi paixão a primeira vista
Por parte dos dois
Em duas semanas
Eram como velhos namorados
E Juanita disse que estava grávida
Ernesto se sentiu feliz
Como nunca antes na vida



Alguns dias depois
Juanita morreu em combate
Uma parte dele foi junto

Ernesto desertou
E voltou para o Brasil
Queria esquecer tudo o que passou

Quando voltou pra casa
não tinha mais casa
Sua mãe vendeu e se matou
Desesperada com o sumiço do filho

Ernesto decidiu visitar um amigo psiquiatra
Entrou no elevador
e apertou o 18º andar

Ao chegar lá em cima
percebeu que não seria igual ao Che na vida
Mas seria na morte
como todos nós

Abriu uma janela
Na varanda do prédio
E pulou de lá

Um comentário:

  1. Acompanhando o processo de criação do texto...ficou melhor do que eu supunha!
    =]

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