segunda-feira, 29 de março de 2010

Soneto

O calor que faz de dia
Um longínquo pensamento
Uma perdida alegria
Momentâneo sentimento

Um barulho na televisão
Me parece só um ruído
Uma dor no coração
Um espírito distraído

Pensando sobre a vida
Que acabou de começar
Com uma felicidade fingida

Um soneto triste
De uma vida que quer acabar
E um corpo inútil que resiste

terça-feira, 23 de março de 2010

Ernesto...

Ernesto era só um garoto
Não tinha pai
Que o abandonou na infância
Sua mãe é alcoólatra
Sua avó morreu louca


Ele próprio tentou se matar
Duas vezes
Na primeira o veneno não foi absorvido
na segunda a corda partiu



Era ridicularizado no trabalho
De balconista de bar
Por causa da sua pobre mãe



Sua única namorada
Disse que ele era um amor de pessoa
Um menino bacana
Mas sumiu no mundo com um colega de sala
Ernesto nunca mais a viu
E nunca entendeu o que aconteceu



Ao chegar em casa ele tomava banho
Comia algo
Pegava uma cerveja
Quando sua mãe deixava alguma
E ligava a TV



Mas não via nada
A caixa só fazia som de fundo para os seus sonhos
Onde ele era feliz
E sua mãe não chegava em casa cheirando a álcool
Se batendo nos móveis
E dormindo no chão
Abraçada a uma garrafa de conhaque



Ernesto sabia
Que sua vida só seria pior
Dia a pós dia
Até o final



No dia seguinte, na escola
Ernesto viu sua chance de mudar
Seu colega de sala, que era do partido
Estava recrutando pessoal para lutar na Nicarágua
Pela revolução
Ernesto achou que era seu destino
Afinal fora batizado assim por conta do argentino famoso
E deveria seguir os mesmos passos.

Decidiu se alistar
E viajou escondido
Ninguém ficou sabendo
E nem notaram sua ausência
Era a chance de recomeçar
Não sabia nem pegar numa arma
Mas foi bem no treino em Cuba
Seria atirador


Chegou na Nicarágua escondido
De barco
Exatamente como o Che fez em Cuba



Na primeira troca de tiros
Matou um soldado
Achou que aquilo não era pra ele



No segundo dia
Conheceu Juanita
Estudante chilena de medicina
Voluntária que nem ele



Foi paixão a primeira vista
Por parte dos dois
Em duas semanas
Eram como velhos namorados
E Juanita disse que estava grávida
Ernesto se sentiu feliz
Como nunca antes na vida



Alguns dias depois
Juanita morreu em combate
Uma parte dele foi junto

Ernesto desertou
E voltou para o Brasil
Queria esquecer tudo o que passou

Quando voltou pra casa
não tinha mais casa
Sua mãe vendeu e se matou
Desesperada com o sumiço do filho

Ernesto decidiu visitar um amigo psiquiatra
Entrou no elevador
e apertou o 18º andar

Ao chegar lá em cima
percebeu que não seria igual ao Che na vida
Mas seria na morte
como todos nós

Abriu uma janela
Na varanda do prédio
E pulou de lá

quinta-feira, 18 de março de 2010

Um desabafo

Andando vou
Todos os dias
Sempre sozinho
Sonhando com um dia melhor
Que nunca chegará

Na cidade grande
Ruas cheias
Sinto a solidão
Como um buraco
Me puxando para o fundo

Me sinto decadente enquanto pessoa
Deprimido e frustrado
Com poucas alegrias etílicas
Que corroem meu organismo

Se fico por algo que nunca aconteceu
Ou só por simplesmente vê-la
Não é culpa sua
E talvez não seja minha

Se escrevo esse em primeira pessoa
É porque quero registrar e desabafar

Se alguém me ouvir
Já fico feliz
Porque Deus nunca me ouviu
Me largou na Terra


Se eu escrevo textos positivos
É porque quero fingir que sou feliz
Faço isso pelas pessoas
Que querem me ver feliz

Esse texto ainda que pequeno
Pode ser uma carta despedida
Ou pelo menos um esboço dela
Se lido num momento oportuno

Sou um nome escrito na areia da praia
Logo uma maré vem e apaga para sempre
Qualquer pálida lembrança

segunda-feira, 15 de março de 2010

Céu de Março

Numa noite qualquer de Março
o céu estava etsrelado
e bonito como nunca mais esteve

Na mesma noite quente de março
eu olhava as estrelas
e pensava longe
a anos-luz de distancia do meu quarto azul

Sonhava em ser outra pessoa
e ter uma outra vida
Acho que eu merecia isso
começar do zero
pra acertar em alguma coisa

domingo, 14 de março de 2010

Diário de um usuário

(de ônibus)

I

Tarde Quente
Como as outras
Na janela do ônibus
Passam pessoas

Os buracos na pista atrapalham
só consigo escrever quando o buzu para
Que venha o ponto
Veio o vendedor de dvd

A tia do lado pega dois dvd's
e tenta ler o que eu escrevo

O vendedor fala de aquecimento global
do apocalipse
e quer dar aula de geografia

Mostrou um album de fotos
de cobras
odeio cobra
não comprei
ele desceu

II

Bairro pobre
Alunos na rua
Quadra vazia
Dois coroas ainda falam das cobras
Velho chato é muito chato
Toda hora repete a mesma coisa
Bem que ele poderia descer
E me deixar no silêncio

III

Rua esburacada
Rasurei o texto
Tá foda o asfalto da cidade

Acabei de notar
Que eu como filho dessa cidade
Nunca falei dessa velha mãe
Que nos trata tão mal

Estou em falta
mas não pago hoje
a caneta tá falhando

IV

Andar em Salvador é ver prédios
favelas crescendo
e prédios sendo construídos

Carros, muitos carros
e onibus
no plural

Me perco nos escritos
e sonho com alguém que não existe
A caneta resolveu funcionar

Melancolicamente termina esse texto
Com o ônibus chegando no final de linha
e tudo termina assim

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tiso

Palestra sobre Getulismo numa república do PCO (ia rolar churrasco depois)
Rui Pimenta diz "boa noite"
Uma amiga bêbada não para de rir.
Ele tenta de novo
Ela ri de novo
Vinte minutos disso

Ninguém do Partido faz nada a respeito
Surreal


Ps: O texto não é meu, mas um camarada postou no orkut essa história interessante, resolvi postar aqui. O título é o nome do autor de verdade :D

quarta-feira, 3 de março de 2010

O suicídio do Sol

(Ou um auto questionamento camuflado numa metáfora triste)

¿ Poderia o Sol se por
Antes da hora ideal
E se ele resolvesse
Simplesmente querer partir ?

Se o nosso astro julgasse
Que não tem mais importância aqui
OS homens tem sua própria luz
O mundo tem sua luz

Sendo culpado pelo calor
O astro-rei decide se despedir
E pula num buraco negro
Deixando uma triste carta despedida
Para sua amiga Lua

Será que sentiram a falta dele
Depois de alguns dias
Sem calor nas ruas

E se o Rei Sol
Pudesse voltar e ver a reação
De todo mundo sem Sol
O que ele mais queria

Ficaria feliz em notar
Que as pessoas ficaram mais felizes
COm menos calor

OU triste em notar
Que as pessoas nem se importaram
Com sua falta

terça-feira, 2 de março de 2010

La mia tintarella di Luna

A alma cansada pede
Uma viagem ao mundo dos sonhos
Onde tudo é bom
Onde é possível ser feliz

A menina dança alegre
O Sol Azul brilha
E uma chuva alegre cai
Ao mesmo tempo

Um banho de chuva
A menina de cabelos vermelhos como companhia
A lua da madrugada como testemunha.

Um escrito

Quero asas pra voar
Pra fora da sala sufocante
Como um novo voo de Icaro
Ir pra qualquer lugar
Já conformado com as asas derretendo

Aproveitando o Sol de verão
Ir caindo bem devagar
Enquanto o chão te espera, desafiador

Uma nova perspectiva o anima
E como do chão ele não passa
E hora de deixar uma marca
Levantar
E seguir em frente

Olhar pra trás é perda de tempo
Contar as feridas da alma é impossível
Ele está entre nós
Enquanto suas asas novas não chegam