Paredes brancas por toda parte
Lisas, alvas, sem personalidade
Não querem me dizer nada
Não querem que eu pense em nada
Que siga uma rotina mesmo sem vontade
Vou gastando os melhores anos da vida
Passa um dia - passa uma tarde
Qual a sua idade?
Onomatopeias de máquinas eletrônicas
Bater o ponto no mesmo horário
Viver refém do maquinário
E ter como melhor amigo o microondas
Alucinações polifônicas
Meus amigos não vejo mais
Mas vejo desconhecidos
Que entram e saem, perdidos
E como se fossem meus companheiros
Vem e vão de volta ao anonimato
Uma tentativa, revolta, apelo
E segue o ritmo dos ponteiros
Tic-tic-tic esse relógio nem faz tac
Espero a hora do alarme
Pra ver um pouquinho de Sol
Indo pra casa na mesma rotina
homem, mulher, menino, menina
Apertados no metrô lotado
Corpo resiste, rosto cansado
É a mesma expressão em toda parte
Paredes brancas e muito papel
Gente que virou só numeral
Daqui nem vejo o céu
A persiana tá fechada
Parece que chove lá fora
Aqui tudo se arrasta
Confiro novamente a hora
A tarde é longa e vasta
Um copo de café pra não dormir
Depois muitos após o primeiro
O tédio que persegue é o problema
Pelo ritmo, o sono é certeiro
Silêncio cortado por um telefonema
Mas a mente querendo fugir
Se sou refém desse relógio
Prisioneiro dos ponteiros
Quero antes os meus direitos
Que sair no necrológio