terça-feira, 27 de agosto de 2013

O acordar cedo

Bom dia diz o passageiro
de maneira maquinal
igual responde o cobrador
sem sequer erguer o olhar

um dia um pioneiro
beira o concreto natural
justo onde um cantor
jurou ver o velho mar

Agora é tudo impessoal
como um código de computador
Morre a chama do sonhar
vale mesmo o cheguei primeiro

Pobre é o homem que esquece
de viver pra sua mente
e passa a ser tão somente
engenhoso relógio que mal se conhece

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Criação

Deve ter sido de madrugada
que o Deus-criador nasceu
antes do calor da alvorada
em seu ardor a vida cresceu

Foram aqueles seres invisíveis
eles andaram pelo mundo
eu vi - eram coisas terríveis
que deram o passo profundo

O colorido surgiu depois
que o Deus decidido se cansou
que os tons só eram dois
e toda cor ele criou

muita coisa aconteceu
antes da invenção do tempo
e o próprio criador morreu
no tédio desse passatempo

mas parece que alguns
amavam o Deus demais
inventavam histórias comuns
que aprendiam dos ancestrais

se acharam os donos da terra
nos tronos os senhores da dor
viviam pra semear a guerra
E eram censores do amor

um dia surgiram uns loucos
que lembravam do coração
amavam - mas que pena - eram poucos !
nobres seres que respiravam paixão

A esse bando de desajustados
deram o nome de poetas
e portanto os mal amados
os mataram com a fúria das setas

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Uma cidade

A cidade engarrafa, a cidade cresce
Um calor que abafa, a insanidade aparece
Indo desordenadamente já não somos poucos
Vindo gente sem mente já estamos loucos

Esse mar de concreto que invade
a inundar o deserto que arde
e traz todo dia o calor
faz o vento parecer vapor

Nem Deus salva a dor dessa gente
e seu amor pela vida indecente
esses eternos dias obscenos
onde sempre se espera menos

nas ruas sujas da capital
ou nessas praias poluídas
não pegue a porta de saída
não tão perto do carnaval

entre intrigas e ônibus cheios
corre em silêncio o tal progresso
chegam empresas, negócio expresso
sobem prédios, todos feios

II

E quando chove na cidade
na verdade não tem graça
basta ver quando ela passa
pra entender a realidade

um alagamento em cada esquina
na rua um asfalto que cede
outro assalto que a polícia não impede
É notícia de ontem que virou rotina